quinta-feira, 17 de março de 2011

DIÁRIO DE UMA PROFESSORA p.1

Olá a todos que leem o meu blog. A proposta inicial do blog é exatamente essa: o bla bla bla da vida. Queria colocar aqui os textos que achasse interessante pra compartilhar e ver os comentários da galera. A maioria dos leitores do blog cobra textos meus então me comprometo em breve começar a fazê-lo. A princípio realmente queria postar algo relacionado a minha condição de professora, principalmente, a de professora de escola pública. Confesso que sempre que tentava escrever algo me sentia afetada no que acredito e no que considero possível. Muitas vezes penso em largar a profissão por constatar que é possível fazer mais, mas o possível não é o caminho mais fácil... mas me vejo cercada pela falta de vontade... Pela falta de vontade de todos os envolvidos e estas pessoas estão roubando e matando a minha vontade também.

Enviaram-me esse e-mail e eu me senti aliviada em ver outra pessoa falando o que eu sinto. Fiquei muito emocionada porque o texto não foi produzido por mim, mas garanto que de um modo bem objetivo: o texto fala o que sente meu coração.

Por favor, não deixem de comentar!

RESPOSTA À REVISTA VEJA


Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que geram este panorama desalentador.

Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira. Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras. Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.

Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.

Rememorando: o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.

Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero. E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração.

Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados.. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 horas semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário. Há de se pensar, então, que são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.

Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave. Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.

Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.

Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante É QUE HÁ DISCIPLINA. E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se..

Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.

Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!

Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO. Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.



18 comentários:

  1. Amei o texto,agora sei o q você pensa.
    Lamento mt ,mais agenet sem vc ñ seriamos nada,kk'
    Eu só aprendo com vc XD.

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  2. Amiga, adorei esse texto. Ele expressa tudo o que pensamos e não falamos. Infelizmente as pessoas julgam nosso trabalho e colocam a culpa do fracasso social em cima dos professores, esquecem que a educação é formada por várias bases e não só pelo professor.

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  3. o texto é muito bom, eu não pensava que a vida de professor fosse assim tão dificil e menosprezada de certa forma e também acho que a educação não tem que depender só dos profesores, a sociedade inteira tem que ajudar...

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  4. Anne, não preciso comentar o texto, pois ele é a pura realidade. Hoje, estou em outra função, mas não esqueço como é difícil ficar motivado quando os alunos não respondem as expectativas de uma aula motivadora. Somos "incapazes" de dizer não a isso e procurar algo que os outros jugam melhor, por um simples motivo, gostamos do que fazemos, e acredito que posso fazer a diferença.

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  5. ótimo testo, eu como filho de professora sei o quanto que minha mãe se estressa, e o quanto que ela se esforça para poder ensinar os seus alunos.
    O professor é a profissão mas importante desse país porque sem conhecimento não vamos a lugar algum. Dependemos do professor e temos que valorizar muito o professor
    Ps: Moálisson

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  6. Olá pessoal,
    Obrigada por estarem participando e comentando. Esse assunto é apenas o primeiro entre aqueles que eu espero uma grande participação. Infelizmente das 62 pessoas que entraram de ontem pra hoje nem todas postaram sua opinião. Mas para esclarecer o post em questão e para quem quiser matar a curiosidade sobre a matéria que gerou a discussão aqui vai o link para poderem acessá-la.
    http://veja.abril.com.br/230610/aula-cronometrada-p-122.shtml

    Obrigada a todos
    T+

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  7. Educar é papel de toda a sociedade e não apenas da escola. Infelizmente, a imprensa tem contribuído com a difusão da ideia de que a culpa do fracasso dos alunos, afinal, é do professor. E tem feito isso de forma bastante ostensiva. Basta lermos os artigos de Gustavo Ioschpe, na revista Veja, ou a edição de março da NOVA ESCOLA (15 mitos da educação), para constatarmos isso. É uma pena que essa postura ideológica só favoreça a inércia dos governos, que acabam não fazendo nada de efetivo pela melhoria da educação.
    Anne, gostei do texto. Parabéns pelo blog. Depois volto aqui para comentar outros textos. Um abraço.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Bom demorei a postar um comentário mais cá estou. kkkkk'!

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    Poxaaa! Realmente... Nessas condições é difícil mesmo ser professor hj em dia.
    Mas pra mim ainda continua sendo a profissão principal do mundo, e a q eu vou seguir se DEUS quiser!
    Tudo oq esta escrito neste texto é verdade. Nós alunos desta "nova geração" somos muito descansados. Oq importa para maioria é somente passar de ano e acabar os estudos para se ver livre da ‘inchação’ de saco dos pais. Mas a culpa n é só da gente, é tbm de muitos pais por ai que n ligam para oq o filho (a) faz ou deixa de fazer na escola.
    São poucas as pessoas que querem seguir esta profissão, tbm né com tudo isso. Achei que fosse mais fácil à vida de professor, mas é bem mais cansativa do que imaginava!
    É por isso e por muitas outras coisas que te admiro TCHIA ANNE vc tem garra!
    Desculpe-me por "ÀS VEZES TE ESTRESSAR”: P
    VC esta sendo a única professora que me faz "ENTENDER" A língua portuguesa ate agora... kkkkkkkk'

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  11. Ótimo texto.
    O pior de tudo isso é que os professores não são respeitados nem pelos próprios profissionais da educação, eles estão sempre julgando e cobrando uns dos outros, mas que na verdade morrem de medo de enfrentar novamente uma sala de aula e perder sua atual função.
    Uma vez uma coordenadora, de outra escola, questionou sobre a metodologia dos professores e recomendou para todos, que lessem o livro Poliana e que nós seguíssemos o exemplo, porém certo dia houve a oportunidade para que ela desse uma aula, por falta de professor, quem disse que ela foi. Rsrsrs.

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  12. Ótimo...
    parabéns!!!
    concordo plenamente com você,pois o nosso país
    é injusto com a profissão de Professor!!!
    isto era pra ser mudado de maneira radical,pois
    professor forma profissionais com extrema capacidade de se destacar no mercado de trabalho...Mas o que falta mesmo no nosso país é compromisso e interesse de avançar.
    Continue assim,mostrando a realidade do nosso Brasil...Parabéns pelo o Blog!!!

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  13. Oi pessoal. Esse comentário me foi entregue em mãos, então vou postá-lo aqui para compartilhá-lo com vcs. Obrigada pela atenção. kkkk

    Amiga Anne, é uma realidade cruel a nossa. De pensar que estudamos tanto e vivemos numa pressão social grande para sermos os melhores, sempre, e sem a mínima condição para isso. A família se isenta de seu papel principal e joga a responsabilidade para a escola (que acata) sem ter condições, mas que responde sim e aceita o discurso de um sistema altamente "cego". Diante disso a "culpa" será sempre do professor, enquanto existir a ausência da prática familiar na vida dos alunos. Só lembrando que o professor é o formador profissional desse aluno e não pai dele, os pais estão em casa (ou não). Num país onde faz sucesso um filme de Bruna Surfistinha, um Fernandinho Beira-mar, do que a educação isso já mostra o quanto somos uma nação atrasada e só repetimos o que o sistema nos pede. Como somos tolhidos, não aprendemos mais além do que já sabemos, só fazemos o básico com um único objetivo: "passar" o aluno de ano.

    "O mundo não é totalmente governado pela lógica: a própria vida envolve certa espécie de violência, e a nós nos compete escolher o caminho da violência menor." (Gandhi)

    Elaine Savalli

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  14. É deve ser mt dificil para vcs professores,essa vida cruel(as criticas as dificuldades).Na minha opinião essa profissão deveria ser a mais valorizada pois os professores é que nos põe a frente de tudo,eles que nos encinam para que possamos ser alguem na vida,mas a triste realidade é que os alunos não se importam para nada ,só penssam em passar de ano e o que aprederam ? (nada),nem todos penssam assim,mais é a minoria os que querem algo serio(querem ser alguem na vida)INFELIZMENTE o mundo não é como nós queriamos que fosse,mas isso é apenas a TRISTE REALIDADE do mundo real.

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  15. Não sabia o tão quanto os professores eram dedicados aos a nós alunos, e agente nem reconhece os esforços deles.Quantos compromissos eles desmarcaram, idas ao cinema , só para poder planejar um aula pra gente e nos nem reconhecemos.
    devia-mos agradece-los por eles terem tanta paciência com nós(alunos),somos tão ingratos a ponto de não agradece-lo por ter nos ajudado, e nos mostrado uma forma mas facil de aprender.
    Hoje sou Aluna,A manhã serei o que estou fazendo hoje, se estudarmos ao em vez de brincar teremos um grande futuro pela frente.
    Bjs anne...
    Amo suas aulas... XoXo :)

    De sua aluna Raissa Caroline

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  16. oi anne, tbm tenho um blog.vê lá meus posts
    http://nathallyfernandes.blogspot.com/

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  17. Este comentário foi removido pelo autor.

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  18. Muito bacana!!!
    Só tenho pra dizer a todos os profs que não desistam pois precisamos de vcs.Fácil não é, pois se fosse todos queriam e não é o que acontece!Amo muito vcs por terem me ajudado e continuam pois quem disse que param?!!! Lógico que não!!

    Beijinhos e abraços a todos em ESPECIAL ANNE FERNANDES,saudades. Jarísia, lembra???

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